Escola Portuguesa Ruy Cinatti

- Centro de Ensino e Língua Portuguesa

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Ruy Cinatti

Ruy Vaz Monteiro Gomes Cinatti nasceu em Londres, a 8 de Março de 1915, e faleceu em Lisboa a 12 de Outubro de 1986. Ainda criança foi para Lisboa, onde se formou, no Instituto Superior de Agronomia.
Divide desde cedo o seu interesse entre as ciências humanísticas e as ciências naturais. A sua atividade poética é já visível ao tempo da sua passagem pelo Instituto da Tapada da Ajuda, e desenvolve-se a par de uma intensa vida académica. Concluída a licenciatura inicia uma vida de viagens como agrónomo dos Serviços de Agricultura. A passagem por distintos lugares, particularmente São Tomé e Príncipe e Timor, inspiram a diversidade temática da sua escrita.


Ruy Cinatti chegou pela primeira vez a Timor no mês de Julho de 1946, após a II Guerra Mundial. Tinha acabado de ser nomeado secretário do governador Óscar Ruas, quatro anos após a violenta invasão do território timorense pelos japoneses. Os tempos eram de reconstrução e, numa primeira fase, as suas funções restringiam-se aos serviços de secretaria. Contudo, nos últimos meses de 1947, o Governador autoriza-o a percorrer livremente Timor, orientado por autóctones, a fim de elaborar um levantamento fito-geográfico que integraria a sua tese de licenciatura.

Da botânica à meteorologia, passando pela antropologia, etnologia e arqueologia, a Cinatti todos os temas interessam e sobre todos escreve.
Incansável viajante pelas regiões mais remotas de Timor, cria especiais laços de amizade com as tribos mauberes, que então viviam ainda muito afastadas do mundo moderno. É convidado a celebrar um juramento de sangue - uma enorme honra para um estrangeiro - com dois liurais (chefes tribais). Esta irmandade de sangue facultou-lhe o acesso a recintos sagrados desconhecidos dos ocidentais. Cinatti nunca esqueceria esse pacto e passou a considerar-se simultaneamente português e timorense. Não o esqueceu, sobretudo, durante e após a descolonização, tendo sido uma das vozes que, em Portugal, clamou mais alto pela situação aflitiva do povo maubere.

De 1948 a 1951, Cinatti encontra-se em Lisboa. A sua tese é aprovada com 19 valores e o poeta regressa a Timor, desta vez como chefe dos Serviços de Agricultura. O afeto pelos timorenses aumenta e consolida-se. Convence-se cada vez mais de que um desenvolvimento agrícola sustentável em Timor só será possível face a uma articulação íntima entre a cultura local e o respeito pela conservação das florestas.

Em 1956, de regresso a Lisboa, Cinatti publica um manifesto - "Em Favor do Timorense" - e dois anos mais tarde entrega às autoridades um "Plano de Fomento Agrário para Timor".

Entretanto, fixa-se em Oxford, onde prepara uma tese de doutoramento em Antropologia Social e Etnografia. Em 1961, regressa a Timor para recolher elementos para a tese e verifica, com tristeza, a delapidação em curso do património cultural do território. A última viagem ao território timorense decorreu em 1966.

Em Janeiro de 1975 dirigiu uma longa carta ao Diário de Notícias, prevenindo o país do perigo que Timor corria, mas a carta nunca foi publicada e a invasão indonésia foi para ele um rude golpe.

Ruy Cinatti foi um dos poucos representantes, senão o único, da estética Imagista em Portugal. Procurou algumas primeiras inspirações no Simbolismo (as influências de Rimbaud, Verlaine e Pessanha são ténues, mas presentes) e sobretudo nos imagistas Ezra Pound e Paul Éluard (que, aliás, menciona com frequência). Construiu uma lírica assente na versificação livre, em que, tal como na vida e nos restantes escritos, se verificam as preocupações humanistas, a alma de viajante e o apreço pelos outros povos.

Entre as obras publicadas por Ruy Cinatti contam-se:

Sobre Timor
• Esboço Histórico do Sândalo no Timor Português. Lisboa, Ministério das Colónias, Junta de Investigações Coloniais, 1950.
• Explorações Botânicas em Timor. Lisboa, Ministério das Colónias, Junta das Investigações Coloniais, 1950.
• Reconhecimento Preliminar das Formações Florestais no Timor Português. Lisboa, Ministério das Colónias, 1950.
• Brevíssimo Tratado da Província de Timor. Lisboa, 1963. Separata da Revista Shell 346.
• Useful Plants in Portuguese Timor: An Historical Survey. Coimbra, Gráfica de Coimbra, 1964. Separata do vol. I das Actas do V Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros
• Alguns Aspectos de Mudança Social no Timor Português. Lisboa, 1975. Separata de In Memoriam António Jorge Dias.
• Motivos Artísticos Timorenses e a Sua Integração. Desenhos de Fernando Galhano. Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical, 1987.
• Arquitectura Timorense. Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical, Museu de Etnologia, 1987.